sábado, 5 de janeiro de 2013

Os três Reis Magos ... eram quatro



Uma lenda dinamarquesa narrada por Joergensen acrescenta aos três Reis Magos conhecidos (Gaspar, Melchior e Baltazar) um quarto de que não fala a tradição.

Diz assim a lenda:
Quando os três Reis Magos se puseram a caminho depois de ter adorado o Menino Jesus e de lhe ter oferecido os seus presentes, chegou um quarto Rei Mago.
Vinha de um país banhado pelo Golfo Pérsico.
Também ele vira a estrela iluminando o roseiral de Shiraz, a linda e rica cidade da Pérsia.
Escolheu um presente raro – três grandes pérolas – e saiu decidido a procurar o lugar sobre o qual brilhava a estrela.
Encontrou o local mas chegou tarde…
Os outros Reis Magos já tinham partido.
Chegou atrasado e… de mãos vazias!
O Rei abriu cuidadosamente a porta do estábulo onde se encontrava o Menino Jesus, Maria e José.
O dia declinava, e o estábulo mergulhava na escuridão.
Um fraco odor de incenso mantinha-se no recinto, como uma igreja depois de uma missa solene.
José ajeitava a palha na manjedoura, e o Menino Jesus estava ao colo de sua Mãe.
Ela embalava-o docemente cantarolando uma das canções de ninar que ainda hoje se ouvem, à tarde, pelos caminhos de Belém.

As três pedras preciosas

O Rei da Pérsia aproximou-se lentamente, hesitante…
Prostrou-se aos pés do Menino e começou a falar:
«Senhor, eu devia ter vindo com os outros Reis que Vos trouxeram os seus dons.
Eu também Vos trazia um presente: três pérolas do mar Pérsico.
Mas neste momento, já não as tenho, Senhor!
Os outros Reis vieram à minha frente montados nos seus camelos.
Eu parei num albergue para passar a noite. Quando entrei, vi um velho tremendo, com febre, estendido num banco, junto de uma fogueira.
Ninguém o conhecia. A sua mala estava vazia.
Não tinha dinheiro para procurar um médico ou comprar remédios.
Seria mandado embora no dia seguinte, se não morresse durante a noite, pobrezinho.
Era um senhor muito velho, magro, com barba desgrenhada… lembrava o meu pai.
Então peguei numa pérola e dei-a ao dono do albergue para que tratasse daquele velhinho.
Na manhã seguinte parti.
Apressei-me quanto pude para alcançar os outros Reis.
Os seus camelos eram vagarosos, e eu esperava encontra-los.
A estrela cortava um extenso vale deserto, onde enormes rochas se erguiam entre giestas douradas.
De repente ouvi, gritos.
Saltei do cavalo e vi bastantes soldados que tinham prendido uma jovem.
Eram numerosos. Nada me adiantaria lutar contra eles.
Perdoai-me, Senhor, mas com a segunda pérola consegui libertar aquela jovem.
Ela beijou-me as mãos e fugiu através das montanhas com a agilidade de um veado.
Sobrava apenas uma pérola.
Eu queria trazê-la para vo-la oferecer, Senhor.
Ao menos uma pérola seria para Vós.
Já era mais de meio-dia, e eu esperava chegar aqui à tarde.
Mas vi uma cidade incendiada pelos soldados de Herodes, que executavam ordens do rei matando todas as crianças com menos de dois anos.
Perto de uma casa em chamas um soldado balançava um menino nu, segurando-o por uma perna.
A criança chovava e lutava.
O soldado dizia:
Agora vou atirá-lo às chamas.
A mãe soltou um grito desesperado.
Perdoai-me, Senhor… Não me contive.
Peguei na última pérola e dei-a ao soldado para que restituísse aquele filhinho à sua mãe.
Ele aceitou.
A mãe agarrou o menino, apertou-o contra o peito e fugiu correndo, sem sequer ter tempo para agradecer.
Senhor, eis a razão por que venho de mãos vazias.
Perdoai-me!

Fez-se silêncio na estrebaria.
O Rei inclinou-se e depois ousou erguer os olhos.
José tinha-se aproximado.
Maria olhava para o Menino aconchegado no seu colo.
Seria que o Menino dormia?
Não, Jesus não dormia.
Voltou-se docemente para o visitante: o seu rosto resplandecia.
Estendeu as mãozinhas em direcção ao Rei e… sorriu!


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